terça-feira, 16 de outubro de 2007

O mundo com certeza ficou melhor sem Dogville!

Acabo de assistir a um excelente filme: DOGVILLE. Realmente muito bom. Surpreendente, diferente, intrigante, reflexivo, inovador...
A pequena cidade de Dogville é na verdade a personagem principal do filme (lembra quando a sua professora de literatura falou da obra "O Cortiço", de Aluízio Azevedo? Isso mesmo...).
A primeira surpresa do filme é estética: nada de grandes locações, efeitos visuais, fotografia de primeira etc. Tudo se passa num cenário artificial, mas nada de pensar numa grande e sofisticada cidade cenográfica. É como se fosse um palco de teatro, e ainda assim bem rústico. As casas não têm portas, não têm tetos. Certas coisas são identificadas apenas pelo nome escrito no chão, como o cachorro. É um detalhe bem interessante do filme.
A filmagem também é intrigante. A câmera é bem usada, os ângulos são diferentes. Com o tempo, você se acostuma com aquela cidade de mentira e com o seu cotidiano.
A narrativa também é inovadora. Um narrador oculto explica os acontecimentos, além de interpretar muitas vezes as atitudes dos personagens.
A vida de Dogville muda quando chega à cidade, na calada da noite, uma linda jovem, perseguida por gângsteres e pela polícia local.
A cidade de Dogville e seus pacatos moradores a recebem bem, apesar da suspeita de ela ser uma pessoa perigosa. Dogville era o mocinho, e Grace, a linda jovem, até então era uma suposta bandida.
Os moradores de Dogville, e a própria cidade, vão se mostrando cada vez mais bonzinhos com a bela Grace.
Mas a história começa a mudar com o passar do tempo. Grace, por mais que se mostre uma pessoa correta, honesta, confiável, vai sendo maltratada pela "cidade" e pelos seus moradores.
É feita de escrava, estuprada (várias vezes), acorrentada e presa. E mais: é delatada por aquele que desde o início dizia amá-la, prometendo ajudá-la.
De início, o filme parece sugerir que a maldade das pessoas é normal, ou melhor, circunstancial. Parece que todos aqueles que estivessem na mesma situação agiriam de tal modo. Trata-se, é óbvio, de uma idéia falsa. A miséria da cidade e dos seus cidadãos não "exige" que eles sejam moralmente fracos. Essa idéia é tão equivocada quanto aquela que aponta miséria e violência numa relação de causa e conseqüência.
Mas o filme se redime no final. A maldade não pode ser encarada como algo acidental, circunstancial.
Vou ter que adiantar, de certa forma, o final do filme, e dizer-lhes o seguinte: o mundo, com certeza, ficou melhor sem Dogville!!! Artisticamente, a cidade e seus habitantes não mereciam outro final.

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