domingo, 24 de maio de 2009

Nós, os "serizumânu", e essa nossa imperfeição...

O vídeo acima é um clipe com cenas do excelente Crash - No Limite, vencedor do Oscar de melhor filme em 2005. O vídeo fica ainda melhor por causa da bela música cantada por Leona Lewis.
Quem ainda não viu Crash tem que ir imediatamente à locadora e alugá-lo, para assistir o quanto antes. Trata-se, sem dúvida, de um dos melhores filmes que eu já vi.
O filme é uma coletânea de histórias que se interligam, na cidade Los Angeles. Temas polêmicos, como o racismo, são tratados com rara sensibilidade.
Uma vez, conversando com um amigo sobre o filme, ele disse: "Crash nos ensina que ninguém é tão bom, mas ninguém é tão mau". Eu concordei. Mais do que isso: na hora, eu até considerei o que ele disse uma síntese perfeita do filme. Mas não é. Ele estava errado, e eu também.
A grande lição que o filme traz, na minha opinião, não é essa suposta absolvição para nossos erros, para nossos desvios morais. Sim, é sempre fácil dizer: "ah, todos temos virtudes e defeitos". E assim se abre a brecha para o mau comportamento. É a universalização para os atos da vida da velha máxima política do "rouba, mas faz". E assim surgem, por exemplo, o "trai, mas respeita", o "mente, mas considera", o "engana, mas compensa".
Esse relativismo moral é uma marca indelével de nós, os "serizumânu", convictos de nossa imperfeição e completamente resignados com ela.
Não, definitivamente Crash não nos perdoa e não é complacente com essa visão de que todo mundo é bom em certas circunstâncias, mas é mau em outras. E vice-versa. Na minha modesta opinião, essa é uma leitura errada.
Crash, na verdade, é um forte tapa na cara de quem pensa assim. É um soco no estômago de quem advoga esse relativismo como algo intrínseco à moral humana.
Reconhecer as nossas fraquezas, os nossos defeitos, as nossas falhas, os nossos desvios de conduta é algo que temos de fazer não com o sentimento de resignação, de conformismo. É algo que devemos fazer com sentimento de culpa, com espírito de aprendizado e com desejo firme e sincero de mudança.
A vida pode ser muito curta e nos prega muitas peças. Ignorar os seus eventos marcantes e deixá-los passar sem tentar aprender e evoluir é um desrespeito à nossa própria existência.
Amanhã você pode estar na sua moto, voltando pra casa, tranqüilo, e um cavalo pode cruzar o seu caminho, do nada. Ter a chance de acordar no dia seguinte, ainda que seja na UTI de um hospital, pode ser apenas sorte, não é mesmo? Não! Crash me ensinou que não. Crash me ensinou que essa visão relativista das coisas é um mal em si, um mal absoluto.
Não, a vida não "morde, mas sopra". Não, a vida não fere para depois curar. A vida apenas segue seu curso, no rumo das nossas escolhas. E, como eu já disse aqui mesmo certa vez, sempre há escolhas, e sempre há uma escolha correta a ser tomada.
Você pode continuar errando, conformando-se com o seu lado bom, ou não.
E aí? Qual é a sua escolha? O que você vai fazer, "irmão"?

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