quinta-feira, 14 de julho de 2011

Eu, Pondé e o ateísmo. Ou: por que eu sou um cristão católico.

Durante boa parte da minha vida, eu me dizia ateu. Obviamente, isso ocorreu quando eu era criança, adolescente e jovem. Claro que não me orgulho desse meu ateísmo até certo ponto recente. Na edição da revista Veja desta semana, achei muito interessante a entrevista do filósofo Luiz Felipe Pondé nas páginas amarelas. Destaco as suas respostas às duas últimas perguntas, porque me identifiquei muito com elas.

O senhor acredita em Deus?
Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo. Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo – pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou sem si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo. Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do Estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média – querer se meter na vida moral das pessoas.

Por que o senhor deixou de ser ateu?
Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do ponto de vista filosófico. A hipótese de Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica. 

Os trechos que grifei e sublinhei resumem muito bem a minha opinião sobre a importância da religião. Eu acrescentaria ainda uma coisa: o Cristianismo, como filosofia moral, é muito superior às demais doutrinas religiosas. Como bem disse Reinaldo Azevedo, num excelente texto (http://veja.abril.com.br/241208/p_095.shtml) publicado na Veja, “o cristianismo é o inequívoco fundador do humanismo moderno porque é o criador do homem universal, de quem nada se exigia de prévio para reivindicar a condição de filho de Deus e irmão dos demais homens. É o fundamento religioso do que, no mundo laico, é o princípio da democracia contemporânea”. Depois, ele finaliza, com mais precisão ainda: precisamos do Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror”.
Sim, eu sou um cristão e acredito nos valores morais defendidos pela Igreja Católica. E me sinto muito mais feliz e seguro depois que compreendi o quão bobo e raso era o meu ateísmo.

2 comentários:

Cristian Fetter Mold disse...

Caro amigo André, na minha opinião enquanto o ser humano precisar de qualquer religião como muleta para justificar o amor e o respeito por seus semelhantes, estamos perdidos.

Ademais uma explicação para a existência da Terra, do Homem e de todas as coisas não deve ser elegante, ela deve ser convincente. E nenhuma religião consegue dar uma explicação convincente para os "temas" supracitos.

A tese de que "quem deixa de acreditar em Deus passa a acreditar em qualquer bobagem", não se sustenta ao menor sopro. Até porque há muito católico apostólico romano por aí que não resiste a uma leitura de horóscopo, a um joguinho de búzios ou a uma quiromancia de tempos em tempos.

Uma vida sem Deus pode ser uma vida de ética, humanismo e respeito com os seres semelhantes sejam eles humanos, animais ou vegetais.

Ter uma Religião não define o caráter do portador.

Forte abraço. Cristian Fetter.

André Luiz Santa Cruz Ramos disse...

Caro amigo,
não se trata de 'precisar' de muleta, mas apenas reconhecer que uma religião pode, sim, representar um código moral para aqueles que a seguem. Foi esse o ponto que eu quis destacar.
A explicação para a existência da Terra e do Homem pode vir da ciência, sim, e religião e ciência não são, absolutamente, coisas inconciliáveis.
Não confunda os maus católicos com o catolicismo, senão você abre brecha para que confundam os maus ateus com o ateísmo.
Suas duas últimas frases são corretas.
Forte abraço e obrigado pela visita.
:-)
André Ramos (Dedeco).